Apresentação original no site...
Originalmente aqui: http://www.bodystuff.org/cooperativadenerds.html
São Paulo, 2 de abril de 2009 [veja nosso blog aqui ou lá]
Apresento aqui meu pequeno círculo de cúmplices numa empreitada que deslanchou há pouco. É a Cooperativa de Nerds sem Noção. Essa é a minha versão.
Isso mesmo: nerds sem noção. Parece resultado de psico-drama ou terapia de grupo, mas é uma ficha que caiu para nós com um certo cinismo benigno: durante décadas construímos projetos, geramos idéias inovadoras, viramos o mundo de cabeça para baixo e em grande parte construímos reputações fortes quanto à nossa competência. Também construímos uma reputação de idiotas. Todo mundo sabe que enfia a mão nos nossos cérebros, tira o que quiser e de vez em quando nem apaga a luz.
Durante anos isso foi objeto de piada, depois de desabafos, até que um ou outro chegou ao desespero. Essa incapacidade de entender o que para nós não faz sentido algum na relação com instituições e as pessoas que as animam ficou sem-graça. Sabe-se lá por que, nesse último desespero de um, rolou uma catálise cósmica qualquer: numa reuniãozinha regada a vinho e porcarias diversas para comer, surgiu a idéia de tentar resolver problemas.
Ora, isso é novo para nós! Estamos acostumados a resolver o problema DOS OUTROS. Parece idiota, né? E é. Nos demos conta de que talvez, só talvez, possamos resolver alguns dos nossos próprios problemas. E que talvez a ante-sala dessa solução seja, pela primeira vez, interagir com aqueles com quem temos um laço de confiança.
Nesse dia me ocorreu como foi possível, durante todos esses anos, não enxergar isso. Muitos de nós têm familiaridade com o conceito de capital social. Todos nós conhecemos de perto as situações em que grupos unidos por laços de confiança operaram enormes transformações (em geral em seu benefício próprio). Aliás, diga-se de passagem, alguns desses grupos nos jantaram com molho de maracujá. Nós, tontos, prontos para engolir vínculos baseados em declarações de princípio e ética que só existem dentro da nossa cabeça. Como se diz em inglês, “it was written with blood on the walls” e nós não vimos. Até umas semanas atrás…
Identidade
Quem somos. Vão perguntar – é melhor bolar algum tipo de resposta. Pessoalmente, posso dizer que cheguei num ponto de apenas me divertir com minha incapacidade em responder a simples pergunta: “qual é sua profissão?”. Pior ainda se perguntaram “o que você faz?”. Ahrmm... Serve “consultoria?”. É engraçado para uma sem-noção. Para alguém interessado em fazer a famosa conversão de CAPITAL SIMBÓLICO em CAPITAL FINANCEIRO (aquilo que Bourdieu dizia que a elite simbólica, i.e. = nós, não fazia em grande amplitude – que novidade...), não é engraçado. É triste.
No entanto, agora estamos descobrindo que o que é triste na solidão da nerdisse individual, é um “plus” no coletivo: embora eu tenha engulhos com o uso imensamente inadequado do termo TRANS-DISCIPLINAR, nós, e muito pouca gente além de nós, somos exatamente isso. A versão popular de trans-disciplinaridade, usada na mídia e nas universidades que habitamos, é a de que basta botar um bando de nego com background educacional diferente junto, colocar um problema para que resolvam, chacoalhar a coqueteleira e pronto: você tem aí um coquetel trans-disciplinar. Sinto frustrar seu sonho ingênuo, mas o buraco é bem mais embaixo. Trans-disciplinaridade só ocorre, enquanto prática, se os “negos com background diferente” forem, eles mesmos produtores de idéias TREINADOS em circular por diversos campos de conhecimento, hábeis em se traduzir e verter problemas e metodologias e assim gerar um resultado que satisfaça interesses de agentes diversos. Quantos caras assim você acha que existem por aí? Reduza em duas ordens de grandeza e fica mais realista.
Prazer: somos nós. Não circulamos porque planejamos, mas porque nossa nerdisse foi nos empurrando a isso. Seja porque a borboleta intelectual foi voando mais longe, e nós atrás dela com diferentes redinhas disciplinares, seja porque batemos de frente com algum guardião do conservadorismo acadêmico que nos defenestrou (e, assim, fomos obrigados a nos re-inventar). Em geral, foi uma combinação destes dois fenômenos.
O “núcleo duro” do grupo é um pequeno nó de amigos de faculdade. Zysman, Martha e eu fizemos graduação juntos na USP, não necessariamente nos mesmos lugares e momentos. Mas o ponto de encontro foi o Instituto de Biociências. Nenhum de nós seguiu uma carreira linear relacionada a essa origem: Martha acabou seguindo pela via de sua graduação original, a arquitetura, não sem máculas da passagem pelo IB. Zysman foi para o Instituto de Psiciologia, contribuiu na área de etologia, educação e provavelmente agora também não sabe muito bem dar um nome ao que faz, assim como eu. Eu.. ahnn... A descrição das migrações disciplinares e temáticas seria longa e desnecessária, visto que todos que estão lendo isso aqui podem acompanhar meus movimentos pela minha caótica presença digital. E tem, obviamente, meu Lattes esquizofrênico.
Assim, o que o “núcleo duro” tem, para começar, é uma inter, multi e trans-disciplinaridade intrinseca, muito pouco deliberada ou voluntária, quase acidental e até mesmo, às vezes, cheia de culpa (aposto). No entanto, se tem uma coisa que aprendemos nos nossos tropeços e quedas, é RESOLVER PROBLEMAS. Eu brinco que sou uma “Assessora para Assuntos Aleatórios”. Mas... pensando bem... é bem isso que tenho sido na prática.
Existem vários outros membros nesse grupo – somos quase 20 hoje. Alguns com formação mais ortodoxa, trajetórias mais ou menos bem comportadas, outros muito mais sem-noção do que o núcleo duro. O sinergismo, no entanto, é o que importa.
Temos editores, escritores, publicitários, programadores, e especialistas em atividades indescritíveis por enquanto. Aos poucos esse espaço trará elementos descritivos mais precisos.
Até hoje não tivemos habilidade ou competência para converter nosso capital simbólico em financeiro. Sem meias palavras, fomos aberta e despudoradamente abusados, usurpados e usados de todas as formas. Encheu o saco. E agora acabou.
Claro que precisamos de assessoria para sair dessa patética condição, e temos certeza de que existem assessores com quem poderemos estabelecer relações bastante produtivas. Estamos abertos a conversas – somos todos ouvidos.
Agora, no entanto, temos uns aos outros. Finalmente, acho que estamos prontos para deixar de ser presa fácil para qualquer oportunista que enxergue nosso óbvio daltonismo cognitivo para a sacanagem.
Você acha que é um nerd sem noção? Escreva para mim. Eu re-envio ao grupo e se você for mesmo, será bem-vindo.
Você é um assessor? Nossa, não hesite em nos procurar: marcaremos uma reunião com você ONTEM. Temos um material básico e portfolios que podem ajudá-lo a ter uma idéia de como nos “ordenhar”. A reunião, naturalmente, será apenas com o núcleo duro – esse mínimo a gente aprendeu...
Aguardem a continuação da saga dos Nerds Sem Noção no Mundo Real! Com direito a hilários relatos e rico conteúdo.
2 comentários :
Então vocês são um só camundongo com transtorno bipolar.
Face Pink
Face Cérebro
.
Wow... que profundo... quase humor britânico. Cheers.
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